A MELHOR IDADE

 

Um dia, a ideia.

Por que não fazer um blog específico, para aqueles que já deixaram a classe dos coroas e ingressaram na etapa seguinte?

Mas um blog verdadeiro, sem dourar a pílula. Sem falar em “melhor idade”, ou subterfúgio parecido. Melhor idade, mesmo, é aquela em que o nosso único problema é gastar os hormônios que sobram.

Melhor idade é quando somos filhos, não pais; ou, pior ainda, avós; é quando a coluna não dói, nem as articulações. Melhor idade é quando os países baixos ainda têm voz na assembleia e fazem valer o seu vigor, em todas as posições.

Quando colesterol, triglicérides e glicemia não sobem, e o tesão não desce. Quando o que cresce não é a barriga, mas os músculos, sem necessidade de fazer musculação, só nadando na praia ou na piscina.   

Melhor idade é quando achamos que estudar é um saco. Quando crescemos mais, descobrimos que trabalhar é pior ainda; e, quando conseguimos aposentar, percebemos que isso é apenas um nome para "cuidar dos netos".

Melhor idade é quando “próstata” e “seios caídos” não passam de conceitos vagos e nebulosos; é quando precisamos pintar os cabelos, se os queremos brancos, e quebrar os dentes, se quisermos ficar sem eles.

É enquanto ainda não descobrimos que “andropausa” e “menopausa”, não são exatamente pausas; estão muito mais pra encerramentos. É quando dançamos as músicas de nosso tempo, não nos limitamos a ouvi-las.

Melhor idade é quando nos apaixonamos todos os dias; é quando curtimos as nossas paixões e perseguimos os nossos sonhos. É quando só vivemos; não nos preocupamos com o que “os outros vão pensar”.

É quando a ida ao médico é uma novidade, não parte da rotina. É quando não conhecemos as especialidades e só ocasionalmente vemos o médico da família; melhor dizendo, é quando ainda temos uma família completa.

É enquanto ainda tomamos parte nas decisões da família; quando as nossas opiniões são ouvidas e não descartadas, como ultrapassadas ou “coisas de velho”. É quando ainda nos contam piadas de duplo sentido.

Quando podemos beber o que queremos, ou comer os nossos tira-gostos, sem precisar ouvir aquele famoso "Você não pode fazer isso; precisa ter cuidado, com a sua idade!". Isto, todo velho sabe, tira metade do prazer de beber ou degustar. 

Com o passar dos anos, fica muito fácil definir “melhor idade”. O problema é que, quando descobrimos isso, ela já passou; e o tempo não volta. Nem o tempo, nem a nossa forma física e aquela maneira descontraída de pensar.

Melhor idade é quando esperamos crescer, para poder fazer “o que os adultos fazem”; e é complicado quando já crescemos demais, e não podemos mais fazer o que tanto queríamos fazer, quando éramos muito jovens. 

Melhor idade é quando pedimos que o futuro chegue logo; quando acalentamos muitas esperanças. Depois que chega a terceira idade, já não dá mais pra ter grandes esperanças; a nossa solução é viver de lembranças.

E é aí que repetimos aquele chavão: “Ah, se eu soubesse disso antes!”. Porque a velhice é sacana: quando você aprende, já é tarde para usar o que aprendeu; aí, o jeito é usar um dos poucos benefícios que o tempo nos traz, em troca do que leva.

É encarar com humor, e ter paciência.

Vídeo das antigas